Como o excesso de prazer se tornou fonte de infelicidade

11/09/2023

Como o excesso de prazer se tornou fonte de infelicidade

Neurociência aponta excesso de recompensa como causa de infelicidade, e smartphones como “fornecedores de dopamina digital” Todo excesso esconde uma…

Neurociência aponta excesso de recompensa como causa de infelicidade, e smartphones como “fornecedores de dopamina digital”

Todo excesso esconde uma falta

O texto abaixo foi publicado na minha coluna no R7, mas como o assunto tem tudo a ver com o momento que estamos vivendo, achei interessante trazer aqui para o nosso blog também. Acompanhe!

Segundo a Dra. Anna Lembke, psiquiatra e professora de Medicina de Adicção da Universidade de Stanford, o aumento pela busca de recompensas imediatas — os chamados estímulos compensatórios — tem deixado a sociedade moderna cada vez mais infeliz.

Em seu livro “Nação dopamina — Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar”, Lembke cita que a dopamina, conhecida popularmente como hormônio da felicidade, funciona como uma espécie de medidor do sistema de recompensa do cérebro e que, quanto mais dopamina uma experiência proporciona, mais viciante ela se torna.

Vivemos na época de maior abundância da história e, com a chegada dos smartphones, ganhamos amplo acesso a tudo que traz prazer, como comida, compras, entretenimento, sexo, drogas etc.

Para a psiquiatra, esses dispositivos atuam como fornecedores de “dopamina digital” de forma praticamente infinita, transformando o que seria apenas uma ferramenta tecnológica em uma fonte de felicidade instantânea.

“Se você ainda não descobriu sua droga preferida, ela logo estará em um site perto de você”, afirma Lembke.

Usando a oniomania (compulsão por compras) como exemplo, vemos que, com as lojas online, a experiência do consumo ganhou camadas extras de prazer.

As “pílulas de felicidade” começam com a euforia de decidir o que comprar, continuam durante a expectativa da entrega e chegam ao clímax com a abertura do pacote.

Não é à toa que os vídeos de “unboxing” (abertura de caixa) se tornaram tão populares nas redes sociais.

Estima-se que 3% da população brasileira sofra com a doença, um percentual três vezes maior do que nos Estados Unidos, levando mais de seis milhões de pessoas ao endividamento e, em alguns casos, à falência financeira.

Isso porque, como acontece com qualquer tipo de vício, a euforia que ele proporciona — frequentemente confundida com felicidade — acaba cada vez mais rápido e, para receber uma nova dose de prazer, é preciso repetir a experiência com uma frequência cada vez maior.

Prazer instantâneo e fuga do sofrimento

Segundo Lembke, a busca desenfreada por prazer instantâneo representa, ao mesmo tempo, uma fuga do sofrimento, pois as pessoas estão perdendo cada vez mais a capacidade de tolerar desconfortos, até mesmo em suas menores formas.

“Constantemente, procuramos nos distrair do momento presente, nos entreter”, afirma a doutora.

Tanto as distrações quanto a fuga do presente são bem fáceis de perceber no nosso dia a dia, afinal, tem sido cada vez mais comum a necessidade de se repetir quase tudo o que é dito ou que haja inúmeros ruídos em qualquer tipo de comunicação.

A impressão que se tem é que boa parte das pessoas, embora estejam com o corpo presente, estão com a mente ausente.

O assunto é complexo e envolve diversas áreas da ciência, porém, considerando o que se sabe hoje em dia sobre dependência, pode-se afirmar que, na balança entre prazer e sofrimento, a prática prolongada de todo tipo de vício pesa mais para o lado do sofrimento.

Sobre isso, a psiquiatra afirma: “Nosso ponto de ajuste hedônico (prazer) muda, conforme nossa capacidade de vivenciar o prazer diminui e nossa vulnerabilidade ao sofrimento sobe”.

Ou seja, o mundo de hoje é um imenso paradoxo, onde a busca desenfreada por recompensa, prazer e felicidade adoeceu grande parte das pessoas, tornando-as viciadas, dependentes e infelizes.

O mundo precisa reaprender a enfrentar o sofrimento e a desintoxicar-se de recompensas instantâneas para, enfim, poder desfrutar de um pouco mais de felicidade.

O texto da coluna acaba aqui, mas se você tem interesse em saber mais sobre o assunto, confira o episódio abaixo do Clube da Leitura onde estudamos o livro e discorremos sobre situações que exemplificam e explicam o que estamos passando.

Se esse conteúdo ajudou você, deixe seu comentário sobre o que mais chamou a sua atenção, sempre que temos mais interações os algoritmos entendem que o conteúdo é bom e recomendam mais. 🙂

Nos vemos!


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6 comentários

    Bom dia!
    “As “pílulas de felicidade” começam com a euforia de decidir o que comprar, continuam durante a expectativa da entrega e chegam ao clímax com a abertura do pacote.”
    Exatamente isso que acontece comigo!!
    Graças a Deus que não tenho compulsão por compras! Mas quando faço é exatamente essa a sensação!
    Lucia MAta

    Boa Noite! O Clube da Leitura está excelente! É realmente preocupante todo este assunto. Há também a compulsão por comida na busca de satisfação imediata! E é exatamente o que foi falado no texto: “Se você ainda não descobriu sua droga preferida, ela logo estará em um site perto de você”. Parece que estão nos estudando e nos incentivando a só fazer o que gostamos. Não existe mais espaço para sacrifício e trabalho árduo para alcançar algo. Só existe: “Seja Feliz! Você merece! Compre mais, coma mais, beba mais,…” É tudo muito estranho.

    Olá Patrícia! Penso que o excesso não só “esconde uma falta” como ele, cada vez mais faz parte do processo de “emburrecimento” proposital. São utilizadas várias técnicas para dominar a mente, tornando incapaz de fazer escolhas, do tipo “deixa a vida me levar”. Obrigada por trazer esse conteúdo, assisti a abordagem no Clube da Leitura e foi muito esclarecedor, inclusive quanto à compulsão por consumir produtos e serviços, ainda que não sejam necessários em determinados momentos, apenas pelo sentimento do “eu mereço”. Abraços

    Patrícia, fiquei feliz com o Clube da Leitura – semana passada eu perdi, mas agora você deu uma nova chance e eu agradeço!
    Tenho uma amiga, que é sua xará, que ama ler livros, mas percebi que nós duas temos enviado memes & afins muitas vezes… e o seu alerta agora (prá que fritar meu cérebro em 45 segundos?), compartilharei com ela, mas antes disso conversarei a respeito da importância de dividirmos o nosso tempo com inteligência.
    Vou ressaltar só um ponto (de tantos que você explicou), com relação às séries! Praticamente varei a noite passada assistindo – ainda que estivesse no meu mais novo vício que são os quadrados de tricô…. mas tudo em excesso dá dor nas costas, ahahahah
    Obrigada!

      Hahaha… verdade!

    É verdade, existe uma busca cada vez maior por prazer e distração nas telas, e isso acaba até afastando as pessoas do verdadeiro prazer de estarem juntas e conversar sobre nada kkkk, apenas desfrutando da companhia uns dos outros.
    Bjns Paty

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